A quem pretenda seguir os ensinamentos de Jesus, significativa afirmação de Emmanuel alerta que o caminho para o desenvolvimento pessoal, está no ato de servir e não de ser servido.
Ficar à espera do auxílio de quem vai servir-lhes, em atitude passiva, os deixará como que engessados, sem saber o que fazer diante das múltiplas situações da vida. Aquele que se propõe a fazer, no prazer de ser útil, encontrará dentro de si os recursos necessários para a solução de todos os seus problemas.
Interessante a comparação que ele nos faz: “quem espera ser servido se cristaliza, e quem serve desenvolve-se” (Fonte Viva, Emmanuel / Chico Xavier, FEB, 1968). Lembremos o nascimento de uma borboleta: sai do ovo, vira lagarta, vira casulo e, com muito esforço vira borboleta, daí então alçando seu voo. Mas, caso ela seja ajudada a sair do casulo, simplesmente perecerá, uma vez que não terá desenvolvido todo o seu potencial de crescimento.
Assim somos nós, muita vez esperando que, do lado de fora, venha alguma ação corretiva para resolver nossas dificuldades pessoais. Ficamos esperando que nos seja servida a solução como se fosse uma poção mágica. A vida é movimento, exigindo ação e iniciativa.
Antigo ditado diz: “quem espera sempre alcança”, no qual “espera” deve ser entendida como flexão do verbo “esperançar”, ou seja, ter a confiança de que, com esforço e dedicação, agindo e servindo, serão desenvolvidas forças interiores, que permitirão acessar a centelha divina.
Percebamos que a própria ajuda que se costuma solicitar nos tratamentos espirituais está muito mais baseada na fé e no entendimento pessoal do solicitante, para as devidas mudanças de comportamento a que deva submeter-se, do que na ação reparadora recebida. Evidentemente ninguém deixará de ser atendido, mas teremos nós entendido como todo esse processo se concretiza?
Já ouvimos, e alguns até já proferiram a expressão - “quanto mais eu rezo mais assombração me parece”, situação que poderíamos entender de pelo menos duas maneiras:
a. ao rezar, ato de íntima ligação às energias do plano espiritual, amplio meu campo de proteção, fortalecendo minha capacidade de resistência, ficando a partir daí capaz de enfrentar novas dificuldades; explicando de outra forma, é como se, ao rezar, eu iluminasse mais intensamente minha casa interior, dando-me conta então de outras tantas até então desconhecidas;
b. ao rezar, seguramente poderei obter alívio das desarmonias pessoais, mas se esperar que as dificuldades simplesmente desapareçam, sem comportamento, ou seja, se eu não mudar a forma de pensar e de relacionar-me, simplesmente outras dificuldades aparecerão.
Novamente ressalto, a vida é movimento, exigindo ação e iniciativa.
Quando a mensagem enfatiza que “quem serve prossegue”, é porque servir é dispor-se a sair do repouso, movimentar-se, tomar a iniciativa, de modo a fazer movimentarem-se as engrenagens internas. Quando fazemos ou participamos de alguma atividade voluntária de benemerência, estaremos recebendo muito mais do que o trabalho despendido.
Ao participar de doação de alimentos, intimamente deveríamos ser gratos por poder servir, tendo o suficiente para doar ao invés de precisar receber. Se atuamos em alguma atividade em casa espiritualista, as situações que viermos a vivenciar servirão de alerta ao nosso próprio comportamento.
Hoje, diante de um cenário de dificuldades tão intensas, em que estamos sendo alertados da necessidade de revisar comportamentos e avaliar níveis de individualismo e de ambições, precisamos repensar como estamos levando nossas vidas.
Para poder assumir o controle e definir o rumo certo de nossas vidas, é conveniente cultivar a busca do autoconhecimento e da compreensão de como somos efetivamente e de quais são nossas carências e desejos. Paralelamente, devemos ignorar pressões externas que nos levem a exageros como o consumismo desenfreado ou o desejo puro e simples do poder pelo poder.
Devemos atender, primeiramente, às nossas necessidades reais, aquelas que conduzem a modificações morais que impulsionem a expansão da consciência. Deste modo, poderemos prepararmo-nos para viver em um novo mundo, agindo em benefício de todos, assim como Jesus, que veio para servir.
Que esses momentos de reclusão, ampliados por força de uma pandemia, nos propiciem a oportunidade de reflexão e disposição para ouvirmos a nós mesmos, escutando as íntimas necessidades que estão pulsando em nossos corações.